*Texto de Álvaro Quintão:
O editorial de O Globo dessa quinta-feira, 14 de março, lembra o triste aniversário de um ano dos assassinatos da vereadora Marielle e seu motorista Anderson. Eis o trecho, a meu ver, fundamental do artigo: “Não há solução instantânea, por homens fortes e providenciais. A via principal é a conscientização de cariocas e fluminenses de que a saída é política, para encerrar o longo ciclo de decadência do estado. Sem prejuízo de ações específicas, com apoio da União para conter e reverter esta debacle, que na verdade ameaça todos os brasileiros. Serpentes já deixaram os ovos”.
Somente nesse trecho do editorial do jornal estão demarcados alguns problemas graves (e crônicos) de nosso estado: a demagogia política, a decadência econômica e a existência de forças paramilitares (as tais serpentes) que ameaçam o estado de direito. Todos esses problemas, por óbvio, estão presentes em outros entes federativos.
Mas o Rio parece “liderar” todas as estatísticas de corrupção típicas do aparelho estatal, além de ter uma forma muito particular da corrupção que envolve agentes de segurança com atividades ilegais. Não à toa, ex-governadores e ex-secretários; deputados que presidiram o Palácio Tiradentes e conselheiros do TCE-RJ estão presos por corrupção – sendo que várias dessas autoridades já confessaram seus crimes. Lembremos, também, que no período em que essas autoridades exerceram o poder é que ocorre o aumento exponencial do território ocupado pela milícia em nosso estado.
No entanto, a prisão de dois suspeitos dos assassinatos de Marielle e Anderson quase que na véspera de se completar a data simbólica de um ano de impunidade mostrou que ainda podemos ter esperança nas instituições do estado de Direito.
Mas o afastamento do delegado do caso, logo após entrevista dele à imprensa, quando informou que agora começaria a 2ª fase de investigação, qual seja: descobrir quem mandou matar a vereadora, reabriu todos os temores que o artigo de O Globo fala.
Afinal, cabe a pergunta: o estado do Rio e o seu sistema de Justiça e Segurança conseguirão dar um ponto final nessa história macabra, doa a quem doer? Ou teremos que nos contentar com a versão surgida no rastro da prisão dos suspeitos de que os mesmos teriam agido “por crime de ódio”? Esperemos que tal não ocorra.