Do G1 Rio (Paulo Maurício Costa): A doutoranda em Química Andreia Silva de Souto conquistou em outubro o direito de retomar seu curso de especialização na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cerca de um ano depois de, segundo ela, ter sido humilhada por sua orientadora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Suzana Borschiver.
O advogado de Andreia, Alexandre Barenco, entrou com ação de responsabilidade civil na Justiça Federal contra a universidade, requerendo indenização e a liberação do histórico escolar da estudante. O segundo pedido foi deferido pela 16ª Vara Federal do Rio, permitindo à aluna ser aprovada na avaliação da Fiocruz, instituição na qual concluiu, em 2007, o mestrado em Ensino em Biociências e Saúde.
Andreia disse ao advogado ter sido xingada pela orientadora. “Você é pobre e fede. Está pensando o quê? Pobre não pode estudar aqui”, teria dito Suzana, evocando a origem de Andreia, negra de 35 anos, criada no conjunto de favelas do Complexo da Maré, subúrbio do Rio. A notícia foi publicada na coluna do jornalista Ancelmo Gois, na edição desta terça-feira (13) do jornal O Globo.
Procuradas pelo G1, a UFRJ e a orientadora não haviam se pronunciado até as 14h30 desta terça-feira. Andreia, segundo seu advogado, não quer conversar com a imprensa.
De acordo com Alexanfre Barenco, Andreia Silva teve de voltar ao Rio de Janeiro após um período cumprindo créditos do doutorado da UFRJ na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, em Portugal. Quando sua bolsa de estudos foi suspensa em 2011 por problemas econômicos naquele país, a doutoranda iniciou contatos por e-mail com Suzana Borschiver, manifestando a urgência em retornar às salas da universidade. “Já nesses e-mails, a orientadora não se mostrava amistosa. Ela tentava culpar a Andreia pelo fim da bolsa”, disse Barenco.
O advogado afirma que Andreia tentou, sem sucesso, trocar de orientador. Mais tarde, ela ouviu uma resposta negativa quando pediu à UFRJ que liberasse seu histórico, documento obrigatório na candidatura a um curso em outra instituição. “A universidade não deu o histórico. E ainda manteve a matrícula dela ativa, à revelia da Andreia, com outra pessoa fazendo o curso no lugar dela. Como pode uma universidade com a importância da UFRJ não permitir que uma aluna se desligue?”, questionou Alexandre Barenco.
Muito abalada, Andreia permaneceu quase um ano sem retomar os estudos. Até que finalmente obteve o histórico e se matriculou na Fiocruz. “Somento em 2013 deve haver resposta sobre a indenização, cujo valor preferi que fosse arbitrado pelo juiz. A Andreia não entrou com essa ação por dinheiro, mas porque foi humilhada”, afirmou Barenco, acrescentando que o objeto da ação é a UFRJ. “A orientadora não é citada na descrição dos fatos.”