Do site de O Globo (CÁSSIO BRUNO) – atualizado em 30/03/12: Apontado num relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como responsável por 16 movimentações financeiras atípicas no valor total de R$ 282,9 milhões em 2002, o servidor do Tribunal Regional do Trabalho do Rio (TRT-RJ) Rogério Figueiredo Vieira (foto abaixo), de 51 anos, está de volta ao trabalho desde o início deste mês. Vieira está lotado na Seção de Protocolo Integrado, que funciona no prédio do tribunal da Rua do Lavradio, no Centro. Ele ficou afastado do serviço, alegando problemas de saúde depois que o caso ganhou repercussão, em fevereiro. Agora, ele tenta levar uma vida normal.
A repartição onde Vieira dá expediente é responsável por coordenar o serviço de distribuição de processos e de petições iniciais protocoladas por advogados ou pelas partes envolvidas em ações. Apesar de ser concursado para a função de analista, que exige nível superior, o servidor faz atividades burocráticas, incluindo atendimento ao público. Os vencimentos para quem tem este tipo de escolaridade variam de R$ 6 mil a R$ 10 mil, sem contar os benefícios.
Vieira conversou com O GLOBO ontem. Na primeira entrevista após a divulgação de seu nome no caso das operações financeiras atípicas, ele afirmou desconhecer as movimentações.
— Estou esperando ser notificado. Se isso aconteceu em 2002, por que o Coaf divulgou isso agora? Não prestei depoimento para a Polícia Federal e nem para o tribunal. Não sei do que se trata. Estou esperando me chamarem para eu falar — disse Vieira.
Os R$ 282,9 milhões estão descritos no relatório produzido pelo Coaf a pedido do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e divulgado em janeiro. O Conselho não revelou o nome de Vieira. A Polícia Federal do Rio, que abriu inquérito para investigar a participação do servidor no caso, confirmou se tratar deste servidor.
Já o TRT-RJ abriu sindicância para apurar se Vieira é dono das empresas citadas em denúncias do Ministério Público Federal, como a MixTrade, do ramo de informática e que atuava com importação e exportação de eletrônicos. O prazo do tribunal para a conclusão do caso termina na próxima sexta-feira. A participação de funcionários públicos na gestão de empresas privadas é proibida pela lei que regulamenta o trabalho dos servidores. Se for punido, Vieira pode ser demitido.
Vieira ingressou no TRT-RJ em1993 na gestão do desembargador José Maria de Mello Porto, assassinado em 2006. Vieira era concursado do TRT do Espírito Santo. Em 1998, ele foi cedido à Câmara dos Deputados para o gabinete do então deputado Jorge Wilson. Em 2003, Vieira trabalhou com o ex-deputado Carlos Rodrigues, o Bispo Rodrigues. No ano seguinte, o servidor foi preso, no Rio, pela Polícia Civil do Paraná. Ele era suspeito de ter desviado, com secretários municipais daquele estado, R$ 16,8 milhões da Companhia Estadual de Energia paranaense (Copel). O servidor ficou apenas dois dias preso. Em 2007, ele retornou ao TRT-RJ.
— Quem são os depositantes (das movimentações)? Que empresas são essas? Eu era sócio de uma empresa de prestação de serviço, mas eu não atuava como gerente. Agora, se esse dinheiro é atípico, não sei. Eu não usaria nada irregular. Daqui a pouco, vou ter que andar com seguranças porque podem achar que eu estou com esses milhões — ressaltou.
Ontem, na sede principal do TRT-RJ, na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro, o corregedor-geral do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Antônio José de Barros Levenhagen, criticou o Coaf:
— Foi uma informação (das movimentações financeiras) inapropriada, divulgada inadvertidamente — afirmou Levenhagen, que concluiu ontem uma inspeção de rotina no tribunal.